A diferença entre o valor pago ao produtor rural e o cobrado do consumidor final chega a mais de 200% em muitos produtos
Texto : Chico Junior
Como bem sabemos, quem menos ganha, ou lucra, com a venda de produtos agrícolas, é o produtor. E, nesse caso, estamos falando, basicamente, do pequeno produtor, do agricultor familiar.
Na cruel rede que começa no produtor e termina no consumidor final, há uma série de custos, que passam pela logística de distribuição e, principalmente, pelos famosos intermediários, e termina no preço do vendedor final, que é quem estabelece por quanto determinado produto tem que ser vendido.
Vários artigos e reportagens já foram publicados sobre este assunto.
Recentemente, um artigo publicado no site da Organis, entidade setorial de promoção do orgânicos, sobre os preços dos produtos orgânicos me chamou a atenção. Sua autora é a jornalista e agricultora Milena Miziara, que desde 2016 se dedica à produção de frutas orgânicas no sítio da família, localizado no município de Cândido Rodrigues (SP). Ali, com a marca Laverani Orgânicos, já produz manga e maracujá. “Limão tahiti e siciliano, avocado e pitaya, ainda estamos plantando”, diz.
Embora cultive produtos orgânicos, acaba convivendo com muitos produtores convencionais: “me incomoda ver como, muitas vezes, precisam se sujeitar a vender seus produtos abaixo do custo de produção”.
“Eu vivo em uma região do estado de São Paulo onde há um grande número de pequenos e médios agricultores convencionais e vejo o sofrimento de muitos deles com o preço de venda da sua produção”, diz em seu artigo. “Eles só ganham dinheiro quando conseguem produzir na entressafra ou quando o agricultor de uma outra região (no país ou até no exterior) teve prejuízo. A falta de produto faz o preço subir, e o prejuízo de um se torna a alegria de outro”.
Para explicar melhor, ela cita dois exemplos. “Em 2018, um saco de cebola de 40kg chegou a R$ 6 ‘na roça’ – preço pago ao agricultor. Aqui na minha região, o custo mínimo de produção de um saco de cebola é de R$ 20. A conta não fecha. No ano passado, produtores de cebola de Minas Gerais e da Bahia perderam a produção devido ao excesso de chuvas, e o saco de cebola chegou a R$ 120. Outro exemplo é o preço do limão. O custo de produção de uma caixa de limão convencional gira entre R$ 18 e R$ 25. Uma caixa com 27 kg de limão vale entre R$ 10 e R$ 18 nos primeiros meses do ano, na safra. No final do ano, geralmente em setembro e outubro, quando a produção é baixa, a caixa chega a R$ 100. Quem tem recursos para investir e produzir na entressafra consegue ‘fazer o ano’ – expressão usada pelos agricultores quando a produção é lucrativa.”
No seu caso, ela também cita dois exemplos: o dela e de uma colega também produtora de orgânicos. “Eu entrego maracujá na porta de uma loja especializada em orgânicos por R$ 6 o quilo, e o preço para o consumidor final é de R$ 18. Minha colega estava entregando alface embalado em plástico biodegradável em uma outra loja a R$ 2,60 o maço, e o preço para o consumidor final era de R$ 8.
Ou seja, uma diferença de 200% entre o preço do produtor e o valor de venda para o consumidor final, no primeiro caso. E no segundo, uma variação ainda mais gritante: 210% entre um preço e outro.
Dá para ver que, como ela diz, “há muito espaço para uma redução de preços sem onerar o produtor”.
Mesmo assim ela acha que o orgânico tem um preço mais justo para produtor rural, pois permite “um pouco mais de estabilidade e tranquilidade financeira”.
Por essa razão, muitos produtores convencionais estão partindo para a produção de orgânicos, para melhorar sua lucratividade. E isso é bom, pois certamente ajudará a diminuir o preço dos orgânicos, possibilitando o aumento do consumo.