Segundo a CNT, o Brasil ocupa a 116ª posição de um ranking de 141 países no quesito qualidade da infraestrutura rodoviária e, em período de colheita, isso volta a ser uma grande preocupação do produtor
Foto: Lineu Filho/Gazeta do Povo
Ao andar pelas rodovias do Brasil em época de colheita é muito comum encontrar uma infinidade de caminhões rodando pelas estradas carregados de grãos. E as condições de transporte nem sempre são as mais favoráveis. Por muitas vezes, encontramos caminhões que perdem partes dos grãos pelo caminho, caminhoneiros que se deparam com estradas caóticas, intransitáveis por conta de buracos, lama, poeira, falta de sinalização. Quanto pior as condições das estradas, mais demorado e mais caro é o frete, maior é o gasto com combustível e manutenção dos caminhões e, possivelmente, maior a perda de produtos pelo caminho.
A safra corre bem, o produtor consegue um resultado favorável na lavoura, mas ao sair da porteira encontra um desafio maior. Uma logística de distribuição que tem muito a melhorar. Independente do destino desse grão, seja o armazém, seja o porto, o caminho não costuma ser fácil para chegar ao destino. E nesse artigo vamos te mostrar em números as condições das estradas do Brasil.
Retrato das rodovias brasileiras pavimentadas
Segundo a 23ª Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada pela Confederação Nacional do Transporte e pelo SEST/SENAT, 59% da extensão das rodovias avaliadas apresentaram problemas, sendo que os piores estão relacionados pavimento, sinalização e geometria.
Na pesquisa da CNT, são avaliadas as condições de toda a malha federal pavimentada e dos principais trechos estaduais, também pavimentados. Vale lembrar que as rodovias não pavimentadas representam 78,5% (1.349.938 quilômetros) de toda a malha rodoviária nacional (1.720.700 quilômetros), mostrando que, além dos problemas das rodovias pavimentadas aqui relatados, os motoristas ainda lidam com a maior parte das rodovias da malha nacional ainda sem pavimentação.
Nas rodovias pavimentadas incluídas no estudo da CNT, o número de pontos críticos identificados ao longo dos 108.863 quilômetros pesquisados aumentou 75,6% em relação a 2018. Segundo a Pesquisa, as condições das rodovias impactam diretamente nos custos do transporte. No ano passado (ano do levantamento), estima-se que, na média nacional, as inadequações do pavimento resultaram em uma elevação do custo operacional do transporte em torno de 28,5%, sendo que o maior índice foi registrado na região Norte (+ de 38,5%).
O custo operacional dos veículos é impactado pelas condições das rodovias. Pavimentos deficientes reduzem a segurança viária e aumentam o custo de manutenção dos veículos, além do consumo de combustível, lubrificantes, pneus e freios. O acréscimo médio estimado em todo o Brasil é de 28,5%. Em rodovias com pavimento em péssimo estado de conservação, esse acréscimo chega a ser de 91,5%.
Gestão pública X Gestão concedida
A 23ª Pesquisa CNT de Rodovias constatou que a piora do estado geral também atingiu as rodovias sob gestão concedida. Em 2019, 25,3% da extensão delas tiveram o estado geral classificado como regular, ruim ou péssimo; e 74,7% da malha concedida foi avaliada como ótima ou boa. Contudo, a avaliação das rodovias concedidas é bem superior à das sob gestão pública. Em relação ao estado geral, 67,5% da extensão das rodovias sob gestão pública apresentaram algum problema.
No material da pesquisa divulgado, o presidente da CNT, Vander Costa, destaca a importância do investimento para que seja possível manter e expandir a malha rodoviária brasileira, garantindo a qualidade do tráfego de veículos. “É urgente a necessidade de ampliar os recursos para as rodovias brasileiras e melhorar a aplicação do orçamento disponível”, afirma.
Desperdício de óleo diesel
Pavimentos inadequados levam a um desperdício de diesel em torno de 5%, pois aumentam as frenagens e reacelerações. Também há maior emissões de gases. Em 2019, estima-se que houve um consumo desnecessário de 931,80 bilhões de litros de diesel. Isso representa um adicional de emissão de 2,46 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2). Esse desperdício custou cerca de R$ 3,3 bilhões adicionais aos transportadores.
Em área de 1000 km² apenas 25,1 km de rodovias são pavimentados no Brasil
De acordo com a lei n.º 10.233/2001, a infraestrutura viária brasileira e a gestão das vias, dos terminais, dos equipamentos e dos veículos no país devem cumprir três diretrizes: garantir a segurança do transporte de pessoas e mercadorias; tornar mínimos os custos do transporte e, portanto, das tarifas e dos fretes; e promover a integração nacional e o desenvolvimento socioeconômico.
Considerando essa moldura legal, a CNT aponta que o setor de transporte desempenha um papel-chave para reduzir os custos da economia brasileira e propagar ganhos de produtividade, ao viabilizar a mobilidade de pessoas, insumos, bens de produção e mercadorias no território nacional.
Entretanto, o cenário brasileiro apresenta uma realidade que não condiz com o cumprimento desses pilares. No Brasil, em uma extensão territorial de 1.000 km², apenas 25,1 km de rodovias são pavimentadas. E, segundo o Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa a 116ª posição (de um ranking de 141 países) no quesito qualidade da infraestrutura rodoviária.
Com esses dados, a Pesquisa CNT de Rodovias 2019 mostra que a infraestrutura rodoviária brasileira não cumpre os pilares previstos na lei n.º 10.233/2001. Detalhando as condições da infraestrutura por rodovias, estados e regiões do país, a Pesquisa demonstra uma situação geral já conhecida e retratada em indicadores mais agregados, como a baixa densidade da malha rodoviária e a baixa competitividade.
As deficiências na infraestrutura rodoviária, captadas nesses indicadores, atrapalham o setor de transporte a exercer o seu papel como vetor de eficiência, integração nacional e desenvolvimento para o Brasil. Ainda que os prejuízos gerados por essa realidade não sejam inteiramente mensuráveis, porque muitos são qualitativos, é possível quantificar parte deles por meio de estimativas.
Perdas nas rodovias
Uma pesquisa realizada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), divulgada no fim do ano passado mostra que no transporte de grãos das rodovias até os portos de embarque para exportação, as más condições das rodovias, a precariedade da frota de caminhões e a imprudência de motoristas foram diagnosticas como causa das perdas. E muitas são as pesquisas sobre as perdas nas estradas do Brasil e as estratégias alternativas para redução desses problemas.
Caminho longo até chegar aos portos
Com o passar dos anos e a expansão das fronteiras agrícolas, o mapa de produção de grãos pelo país foi mudando. Enquanto a produção migrou para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste, os corredores logísticos não acompanharam o movimento. Mesmo com grande parte da produção de grãos do País estando concentrada no Centro-Oeste e Matopiba, parte muito significativa dessa produção é escoada pelo Sul e Sudeste. Além de dificultar o escoamento, a situação também encarece o frete.
Segundo levantamento da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) divulgado em 2018, o custo logístico de transporte da lavoura ao porto no Brasil, em 2017 (ano do estudo mais recente), chegou a US$ 90/tonelada, sendo 3 vezes maior que nos EUA (US$ 26) e o dobro do custo argentino (US$ 43), no mesmo período.
Investimento necessário
Investimentos – sobretudo estrangeiros – em modais alternativos, como ferrovias e hidrovias, têm começado a mudar o panorama dessas regiões “esquecidas” pelo restante do Brasil. Mas ainda é pouco perto do tamanho deste gargalo, sendo que grande parte da logística de distribuição de grãos do Brasil ocorre pelas rodovias.
É preciso investir em qualidade de rodovias e outras formas de distribuição para que os produtos brasileiros possam ser escoados de forma mais rápida, segura e com custo mais acessível, reduzindo também as perdas dos produtos que custaram caro até chegar no ponto de serem transportados.
Com informações da CNT, Conab e Gazeta do Povo