Bloqueio à germinação não é um aspecto desejável do ponto de vista da agricultura mas contribui para a perpetuação das espécies
Texto: Marluce Corrêa e Letícia Vieira
Você já deve ter visto que muitas sementes não germinam de forma natural com rapidez depois de maduras e livres da planta-mãe mesmo estando em condições consideradas favoráveis para o desenvolvimento, não é mesmo? Muitas são as espécies em que esse tipo de bloqueio acontece e ele pode ter várias causas e pode também ser rompido por inúmeros procedimentos a depender da causa da dormência. Neste artigo, iremos esclarecer suas dúvidas em relação a esse fenômeno denominado dormência.
O que é a dormência?
A dormência de sementes é um recurso de adaptação evolutiva utilizado pelas plantas para germinarem na época mais propícia ao seu desenvolvimento, buscando através disto garantir a perpetuação da espécie. Esse processo é caracterizado pelo endógena das sementes mesmo quando estas se encontram em condições consideradas favoráveis de umidade, temperatura, luz e oxigênio.
A dormência é determinada geneticamente no reino vegetal e é instalada na fase de maturação das sementes ainda na planta-mãe quando esta sofre algum tipo de estresse que a faça “entender” que sua espécie pode estar ameaçada, induzindo assim o mecanismo de bloqueio nessas sementes.
Essa semente pode ser liberada da planta-mãe já dormente (dormência primária) ou ter essa dormência quebrada ainda na planta-mãe e, após liberada da planta, ter a dormência reinstalada por alguma condição adversa (dormência secundária). O bloqueio só será rompido se condições específicas, variáveis de entre espécies e indivíduos, ocorrerem.
Causas da dormência
A dormência pode ter diversas causas mas, de modo geral, podemos classificar a dormência das sementes em dois tipos, a endógena e a exógena e estas nos ajudam a identificar as possíveis causas do processo de dormência.
A dormência endógena é causada por algum bloqueio à germinação relacionado ao próprio embrião como, por exemplo, a presença de inibidores químicos, o desbalanço hormonal ou mesmo a incapacidade do embrião para superar barreiras físicas e/ou mecânicas representadas pelos tecidos adjacentes à semente.
As sementes também podem estar dispersas com o embrião não-diferenciado ou não completamente desenvolvido, necessitando passar por um período de maturação após a dispersão ou colheita.
Já a dormência exógena é causada pelo tegumento, endocarpo, pericarpo ou por órgãos extra-florais. Nesses casos, é possível observar mecanismos como impermeabilidade dos tecidos à difusão de água ao embrião, impedindo sua expansão e à presença de substâncias inibidoras do crescimento embrionário, presentes nesses tecidos e translocados ao embrião gerando assim, um impedimento mecânico.
Podemos também dividir as causas de dormência em três outros grupos:
Tegumento impermeável, endocarpo, pericarpo ou por órgãos extra-florais: nesses casos, é possível observar mecanismos como impermeabilidade dos tecidos à difusão de água ou gases ao embrião, impedindo sua expansão e a presença de substâncias inibidoras do crescimento embrionário, presentes nesses tecidos e translocados ao embrião gerando assim, um impedimento mecânico. São as famosas sementes de casca dura.
Substâncias inibidoras: são substâncias que geram algum bloqueio à germinação relacionado ao próprio embrião como, por exemplo, a presença de inibidores químicos, o desbalanço hormonal ou mesmo a incapacidade do embrião produzir substâncias que o auxiliem na superação de barreiras físicas e/ou mecânicas representadas pelos tecidos adjacentes à semente.
Embrião fisiologicamente imaturo ou rudimentar: no processo de maturidade da semente o embrião não está totalmente formado, sendo necessário dar condições favoráveis para o seu desenvolvimento, no qual a semente passa por um período de maturação após sua dispersão ou colheita até que esteja apto para continuar o desenvolvimento.
Combinação de causas: uma mesma espécie pode apresentar mais de uma causa de dormência podendo ser um compilado de duas ou três causas citadas anteriormente.
Alguns autores relacionam ainda a dormência a duas principais causas que seriam: impermeabilidade do tegumento a água e balanço entre substâncias inibidoras e promotoras da germinação que resumiriam todas as outras causas citadas anteriormente, de acordo com algumas pesquisas.
Processos de quebra de dormência
Diversos métodos podem ser empregados no intuito de superar a dormência das sementes e assim fazer com que estas germinem. Estes métodos utilizam técnicas que envolvem a escarificação das sementes, por meio de métodos mecânicos ou químicos, estratificação, choque de temperatura ou até mesmo, água quente.
Escarificação química: método que utiliza elementos químicos, como ácidos (sulfúrico, clorídrico etc.), que possibilita que as sementes realizem trocas com o meio, água e/ou gases.
Escarificação mecânica: método que utiliza a abrasão das sementes sobre uma superfície áspera (lixa, piso áspero, dentre outros) com o objetivo de facilitar a absorção de água pela semente.
Estratificação: método que utiliza o tratamento úmido à baixa temperatura, auxiliando as sementes na maturação do embrião, trocas gasosas e embebição por água.
Choque de temperatura: método que utiliza a alternância de temperaturas variando em até 20 ºC, em períodos de 8 a 12 horas.
Água quente: método que consiste na imersão das sementes em água na temperatura de 76 a 100 ºC, com um tempo de tratamento específico para cada espécie, comumente utilizado em sementes que apresentam impermeabilidade do tegumento.
A dormência é um fenômeno muito importante dentro da agricultura por muitos aspectos. Um desses que deve ser ressaltado é o fato da dormência também estar diretamente ligada a formação do banco de sementes de plantas daninhas no solo, que dificulta o manejo das áreas produtivas.
Tendo em vista que as sementes possuem diferentes níveis de dormência (mesmo sendo originadas da mesma planta), as sementes de plantas daninhas como Digitaria insularis (capim amargoso), por exemplo, irão germinar, de forma aleatória ao longo do tempo e sem sincronia, quando cada semente tiver sua dormência quebrada. Isso dificulta muito o manejo das plantas daninhas, no geral.
Seria muito mais fácil o controle das mesmas se elas germinassem todas ao mesmo tempo, não é mesmo? Mas a natureza é sábia e, para perpetuação das espécies, não permite que isso aconteça. A dormência é, portanto, um processo complexo que acontece em diversos níveis e formas em espécies variadas e deve ser cada vez mais estudada a fim de buscar soluções para problemas como o citado no exemplo do manejo do capim amargoso ou a fim de contribuir com a formação de mudas de plantas com sementes dormentes que demorariam anos para germinar de forma natural, por exemplo.
Foto: Érica Leão