Segundo Emater, elas já são 38% dos agricultores cadastrados na capital e estão assumindo, cada vez mais, dianteira nos negócios
Por Luiza Garonce, G1 DF
Adaptação: Marluce Corrêa Ribeiro
Nas áreas rurais do Distrito Federal, tratores são pilotados por mulheres. A função tradicionalmente desempenhada por homens também passou a ser delas na capital federal. O exemplo ilustra uma realidade em constante transformação: as mulheres estão ocupando, cada vez mais, a dianteira dos negócios no campo.
Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), elas representam 38% dos produtores cadastrados no DF. Do universo de 46.200 beneficiários, 17.688 são mulheres – que assumem administração, plantio, colheita, comércio e gestão financeira.
Ainda de acordo com a Emater, a maioria das produtoras concentra-se na agroindústria e na fabricação de artesanatos, mas também têm forte presença na criação de gado leiteiro, no cultivo de hortaliças e na floricultura.
Exemplos de sucesso
Uma delas é a produtora Sandra Gimenez, que também é diretora executiva da Associação de Produtores e Varejistas do Ceasa-DF. Ela disse ao G1 que trabalha no campo desde 1998, quando se aposentou da Secretaria de Educação, e tomou frente ao empreendimento do marido.
“Me atirei direto no campo, porque é a coisa que eu mais gosto. Amo mexer com a terra.” – produtora rural Sandra Gimenez
Ela conta que precisou vender a fazenda de 110 hectares onde o marido produzia leite e queijo, criava codornas e tinha uma plantação de maracujá porque ele passou por problemas de saúde e não teve mais condições de administrar o negócio.
“Eu vendi a fazenda e viemos para uma chácara próxima à cidade, com 7 hectares”, disse. “Deixamos o gado e as codornas e temos plantação de café, pomar de frutas cítricas, plantação de açaí, de milho, de feijão roxinho, de mandioca, batata doce e de abóbora cabotiá.”
“Deu certo. Hoje a gente produz muito mais em 7 hectares do que em 110.” – produtora rural Sandra Gimenez
Sandra acredita que as mulheres estão provocando uma “transformação muito grande” no campo. “O crescimento começou com um caminhar de formiguinha e agora está acelerando. Muitas mulheres estão acreditando na sua força de trabalho e a produção e o DF está crescendo com elas à frente.”
Na Emater, a sensação é a mesma. O engenheiro agrônomo Gilmar Batistella, que é extensionista rural da empresa, disse ao G1 que vê as mulheres e, também, os filhos fazendo mais parte dos negócios – como participantes e não apenas como família.
“Eles deixam de ser somente marido e mulher e passam a ser parceiros de negócio. E passam a incluir os filhos também. Até o início dos anos 2000, o pai tocava as atividades muito mais sozinho. Hoje isso está mudando.”
Batistella destaca que, no meio rural, a lógica de funcionamento é semelhante à empresarial. “O produtor planta, colhe, vende, administra documentação e financiamento, faz operacional, estratégico e planejamento. Sozinho é difícil dar conta.”
Para capacitar e profissionalizar os produtores, a Emater oferece uma série de cursos técnicos, incluindo o de tratorista. Segundo Batistella, cerca de 40 mulheres têm o certificado de direção, manutenção e manuseio das máquinas gigantes no DF.
As mulheres também tem sido responsáveis pela expansão da produção de flores e de plantas medicinais. Um exemplo é a produtora Sandra Vitoriano – que, além de presidente da Associação dos Produtores Rurais de Hortifruti do DF e Entorno, e do Sindicato de Hortaliças, Flores e Frutas do DF, é coordenadora do grupo Mulher no Agro, ligado à Emater.
Ela disse ao G1 que trabalha como produtora rural há 17 anos e, desde então, também é comerciante da Ceasa, onde vende as verduras e frutas que cultiva. A trajetória até aqui, porém, foi marcada por episódios de depreciação. “Quando cheguei, enfrentei muito preconceito por ser mulher.”
Sandra contou que, antes de mudar-se para o campo, nunca tinha imaginado em trabalhar com a terra. “Não sou filha de produtores, caí no campo por um problema de saúde do meu marido, que foi aposentado e a ordem médica era ir morar na área rural”, disse.
“Cheguei da cidade madame e tive que vencer a discriminação para chegar onde cheguei. Não sabia nada sobre produzir, mas aprendi. Quando cheguei num lugar onde só tinha homem, comecei a trazer as mulheres vizinhas.”
Atualmente, segundo a Emater, as principais demandas das produtoras são por locais de comercialização, melhorias de infraestrutura – nas estrada, no sinal telefônico, energia elétrica, transporte público – além de saúde e segurança.
Sandra acrescenta que, ainda hoje, a obtenção de crédito junto aos bancos é mais difícil para as mulheres. “Não existe nada específico para elas, que geralmente não têm nada no nome, muitas nem tem conta bancária. É bem mais difícil.”
“É preciso entender que trabalho rural não é só homem que faz, nós também fazemos. Estamos produzindo e estamos à frente do comércio também.” – produtora rural Sandra Gimenez.