Muito se fala atualmente a respeito de créditos de carbono ou redução da emissão de gases do efeito estufa, o que considero de extrema importância para o momento atual que vivemos. Com intuito de despertar ainda mais a curiosidade e consciência das pessoas sobre esse assunto quero aqui trazer algumas provocações no sentido de movimentar o Agronegócio brasileiro para que seja protagonista também nessa frente
Vamos relembrar a linha do tempo referente ao tema, em 1997 o Protocolo de Kyoto assinado pelos países pertencentes à Organização das Nações Unidas ONU firmaram compromisso para que os membros tenham controle sobre a intervenção humana no clima, uma forma de atuar nesse sentido foi criando controle sobre a emissão dos gases. O acordo prevê a redução da emissão escalonada pelos próximos anos. Esse movimento contribuiu para a criação do mercado de créditos de carbono, que nada mais é do que a comercialização dos certificados por parte dos emissores no mercado internacional. A pessoa ou empresa que gera os créditos emite um certificado e vende os mesmos para empresas que não conseguem reduzir a emissão do CO2.
A principal discussão em torno desse assunto se deve a premissa de usar esse mercado para diminuir as emissões de gases do efeito estufa. As certificações a nível mundial são monopolizadas por uma empresa chamada Verra, que detém cerca de 92% dos certificados que autorizam comercialização de créditos de CO2. O mercado voluntario de carbono apresenta exponencial crescimento no Brasil. O principal foco desse mercado hoje é o desmatamento, pois essa é uma das formas de evitarmos o aumento da emissão de gases, ou seja, não podemos desmatar de forma irresponsável. E a Amazonia é o centro da geração de créditos. O perfil do Brasil nesse setor é o de crédito não produtivo, ou seja, o Agronegócio quase não participa dessa geração de créditos, não porque não esteja produzindo, mas por não estar fazendo uso dos certificados que poderia. Um dos desafios do Agro brasileiro é usar a fertilidade do solo como principal alternativa de redução de gases, isso já está sendo feito nas propriedades por todo país.
O Brasil tem uma meta audaciosa no sentido de redução dos gases, e já temos algumas boas práticas em andamento como a ILPF Integração Lavoura Pecuária Floresta, que além de gerar mais uma fonte de renda para o produtor, auxilia na retenção desse carbono no solo. O plantio direto, há muitos anos implantado em cerca de 70% das propriedades do país também tem ajudado nesse sentido. O cerrado brasileiro apresenta um potencial imenso devido suas características tropicais de clima e solo, favorecendo a retenção. A pergunta que se faz é por quanto tempo será armazenado esse carbono no solo e qual a garantia disso após a comercialização? Faz parte desse desafio ligar os produtores às empresas que negociam créditos no mercado voluntário.
As cooperativas agrícolas com sua assistência técnica e capilaridade com produtores podem dar escala nessa etapa. Implementar cada vez mais boas práticas e sustentabilidade o mercado já faz esse convite, a agropecuária se mostra como um imenso aprendizado para como colocar o CO2 no chão. Atualmente temos um mercado florestal muito interessante onde as regras já existem, precisamos aprender a entrar nisso e remunerar as propriedades que atuam de forma adequada. Já existe preocupação com a fase de saturação que o mercado certamente atravessará, pois os certificados irão pagar os avanços, mas até quando será mantido? O desmatamento, uma grande preocupação em relação ao Brasil, está sob os holofotes do mundo, mas temos muitas outras formas de atuar nesse mercado.
A Cop27 com certeza abordará essa temática e trará luz para os próximos passos. Fica para o Agronegócio Brasileiro esse olhar que precisamos dar a esse mercado que proporciona uma oportunidade de podermos contribuir ainda mais com a sustentabilidade dos negócios dentro e fora da porteira.