Entre tantas opções de negócios, a operação de barter apresenta diversas vantagens para as partes envolvidas e é considerada, se bem feita, uma alternativa segura de negociação. Por conta disso, tem apresentado crescente aplicação como operação financeira dentro do mercado agrícola nos últimos anos no Brasil
Texto: Marluce Corrêa Ribeiro – Jornalista e Redatora do Portal Agromulher
Você já ouviu falar sobre barter? Conhece esse formato de negócio? É uma forma de negociação que tem caído no gosto das empresas e dos produtores por ser uma operação financeira que busca amenizar os riscos. Em um momento de situação econômica tão imprevisível e delicado como a dos últimos anos, essa operação tem crescido entre os produtores do país. E nesse artigo vamos te explicar o porquê desse aumento, quais as vantagens e os riscos da operação e quando o barter pode ser uma boa decisão.
Para começar: o que é barter?
O barter é um tipo de negociação/operação financeira muito utilizada no agronegócio, principalmente no caso do café, da soja, milho e cereais. Por meio do Barter é possível a aquisição e pagamento de insumos com a produção futura. Ou seja, envolve a troca dos produtos finais produzidos pelos agricultores por insumos em geral, como adubos, defensivos agrícolas, entre outros. Estes insumos, que serão utilizados na condução da lavoura, podem então ser adquiridos sem a necessidade do pagamento antecipado em dinheiro.
O termo “Barter” vem do inglês e significa permuta, troca. E reflete muito bem esse tipo de operação financeira. No Brasil, antigamente, esse tipo de operação financeira era conhecida como “soja verde”.
Marina Piccini, fundadora da AgroSchool, define o barter de forma simples. “O barter é uma ferramenta financeira comercial por meio da qual a empresa vende os insumos para o produtor, que terá prazo para pagar, e pagará com parte da sua produção. Tudo isso baseado na relação de troca estabelecida no momento da negociação”.
As operações de Barter — ou troca, como também são conhecidas — são ferramentas extremamente úteis no agronegócio, tanto para quem está vendendo insumos quanto para os produtores. A prática consiste em fazer esse tipo de negociação antes da colheita para usar os insumos necessários e, então, efetuar o pagamento com os produtos obtidos na lavoura.
O Barter surgiu para facilitar a negociação entre empresas de insumos e produtores. Devido a essa característica, o Barter é uma modalidade cada vez mais atrativa para o produtor que procura e quer fazer a negociação. Ela facilita a vida do produtor, que fica livre da variação de commodity, já que o preço é travado pela venda antecipada.
O contrato: Cédula de Produto Rural (CPR)
Segundo a My Farm, hoje, a operação barter representa mais de 20% do faturamento de empresas de grande porte do agronegócio no Brasil. E para garantir a segurança dessas negociações e ainda o compromisso entre o produtor rural e o fornecedor de insumos, é lavrado uma espécie de contrato registrado em cartório para firmar a operação, denominado Cédula de Produto Rural (CPR). Ao assinar o contrato, o produtor se compromete a entregar parte da sua próxima colheita como pagamento pelos insumos.
Criada com a Lei 8.929 em agosto de 1994, a CPR traz consigo a localização da safra do produto agrícola/pecuário a ser entregue na referida operação, os dados do depositário e o seu prazo de liquidação, com sanções caso não haja seu cumprimento de obrigações por parte do produtor tomador do crédito.
Quem pode fazer barter?
O sistema de Barter pode ser realizado por quaisquer produtores que estejam interessados nas vantagens oferecidas por esse modelo de operação financeira. Sendo uma alternativa excelente para pequenos e médios produtores, pode ser realizado por um produtor que encontre e negocie com o seu fornecedor de insumos a implementação do sistema nas suas relações comerciais. O Barter é utilizado por muitas cooperativas e tradings, que realizam essa troca de insumos (sementes, adubos, defensivos) por produtos agrícolas como milho, soja, algodão, café, boi etc.
Inúmeras são as possibilidades de operações dentro do barter, havendo inclusive estruturas extremamente complexas para esse tipo de operação, mas em geral é realizada a modalidade mais simples. Nesse formato mais simples, estão envolvidas três partes: o produtor (que tem ou terá o produto para entregar na troca por insumos); o fornecedor de insumo (que deseja vender as sementes, fertilizantes e defensivos); e a trading ou consumidor de grão (que tem interesse em originar grão para consumo ou venda). Nesse formato, a trading faz o papel do comprador final e é quem define o preço a partir do mercado internacional.
Para Marina Piccini, o barter é o ciclo do “precisa”. “Cada um dos 3 participantes básicos do barter precisa de alguma coisa. O produtor precisa comprar os insumos e, muitas vezes, ele precisa do prazo para financiar; a indústria ou a revenda precisa vender os seus insumos, atender a necessidade do cliente e financiar de uma forma que também seja segura para ela. E a trading precisa comprar a produção agrícola porque ela vai utilizar no mercado doméstico ou vai exportar e já precisa se planejar e garantir que terá os produtos de exportação.
Marina ainda destaca o quanto o mercado é criativo e ressalta a possibilidade de buscar diferentes combinações e a necessidade de planejar uma negociação personalizada para cada cliente em cada safra. “Todo ano devemos fazer uma nova leitura do cenário do mercado, a depender da oferta e da procura, das tendências de preço de insumos e da produção. É preciso fazer a leitura de mercado e ter ali a sua ‘caixinha de ferramentas’ com diversas modalidades para poder entender qual modalidade de negócio se encaixa melhor de acordo com o cenário e também com o perfil do cliente”, explica ela.
Vantagens do barter
O barter, assim como outras formas de negócio, proporciona inúmeras vantagens para todas as partes envolvidas, como:
- Menos riscos – a operação barter é uma garantia de venda para o produtor rural, já que a negociação é feita com antecedência. Logo, ele se compromete a entregar uma parte da colheita ao mesmo tempo que o preço é estipulado previamente.
- Maior segurança na negociação – a existência da CPR, que legaliza e formaliza a transação, garante que nenhuma das partes envolvidas no Barter será prejudicada. O produtor se compromete a entregar parte da colheita, ao mesmo tempo que tem o preço previamente determinado — medida que protege contra variações cambiais, de juros e preços de commodities.
- Financiamento seguro: o Barter mostra-se uma ótima oportunidade de uma espécie de financiamento. O produtor rural pode não ter o dinheiro necessário para investir em insumos de qualidade naquele momento. Dessa forma, a operação garante a este produtor a possibilidade de ter acesso aos insumos e pagar com uma moeda garantida: os grãos.
- Negociação travada – o produtor sai com a negociação travada, e isso impede a variação de preço das commodities e dos produtos. Assim, evita entrar na questão monetária e não precisa se descapitalizar, porque já vendeu a commodity sem envolver pagamento em dinheiro, apenas troca de produtos.
- Juros e taxas: O sistema de Barter possibilita que produtores com menos acesso ao crédito rural ainda assim consigam realizar suas atividades. Além de evitar os juros e taxas dos bancos em certas épocas.
- Facilitação comercial e redução de problemas com armazenamento: O produtor não terá que se preocupar com o armazenamento dos grãos em questão. Se o negociado for 10% dos grãos colhidos, essa porcentagem já tem um lugar garantido de destino.
- Maior alcance comercial e nome no mercado: a operação Barter abre oportunidades de negociações com diversos compradores que o produtor poderia não ter acesso por outras formas de negociação.
O barter então vai além de uma forte alternativa para o financiamento da safra. Ele se configura em uma maneira de o produtor gerenciar melhor sua lavoura, proteger os custos e alavancar os resultados.
Mas também é preciso estar atento. É preciso utilizar essa ferramenta de negociação da forma correta e com cuidado no momento de formulação dos contratos de ambas as partes, para que o acordo seja favorável para todos os envolvidos. É válido inclusive buscar auxílio de um profissional especializado nesse tipo de transação financeira.
Marina alerta que, primeiramente, o produtor precisa entender sobre barter e conhecer seu histórico para definir se essa modalidade é uma boa opção. Além disso, ele precisa buscar informações sobre a documentação necessária para firmar o contrato. E a recomendação é sempre buscar tradings de tradição no mercado, com boas referências, para evitar problemas no momento do acerto final do negócio, quando a trading recebe o produto final e realiza o pagamento dos insumos para a revenda ou a indústria de insumos a fim de quitar o débito do produtor.
Negócios do agro em novos tempos
O atual cenário do mercado apresenta uma realidade atípica. Com o dólar nas alturas, a saca de soja chegou a bater R$100,00 no primeiro semestre. E aí, surgem as dúvidas: como negociar? É hora de fazer barter? Como devo proceder?
Marina Piccini salienta que, sem dúvida, o barter foi uma ótima alternativa também nesse momento de alta no mercado justamente quando a soja estava sendo colhida e vendida. E também nesse momento, os produtores que já estavam/estão planejando a safra 20/21, aproveitaram o mercado aquecido para já negociar parte da produção utilizando barter. “Muitos produtores estavam negociando a safra futura num preço melhor e comprando os insumos numa lista de preços anterior, antes do reajuste do dólar para a nova safra. Então, vimos que muitos produtores se anteciparam, sempre pensando na relação de troca”, relata Marina.
Mas muitos produtores se perguntam: como saber se o barter é uma boa opção para mim? Marina Piccini responde dizendo que o produtor precisa fazer contas, comparar e, acima de tudo, conhecer o histórico de custos da sua área, de produtividade, e entender o mercado.
“Para saber se é uma vantagem ou não fazer o barter naquele momento, o produtor tem que ter na cabeça qual é a relação de troca histórica dele naquela região. Quanto custa produzir x sacas nessa minha área? O produtor tem que ter isso muito claro na cabeça dele, para que quando surgirem essas oportunidades, ele saiba se é vantajoso ou não fazer a relação de troca naquele momento”.
“Todos os dias o mercado está aberto e todos os dias há oportunidades de bons negócios. E para o produtor saber se é um bom ou mal negócio, ele precisa ter um parâmetro de comparação para decidir se aquilo ali é bom ou não para ele”, complementa Marina.
Diante de tudo isso, Marina, que trabalha no agro há 17 anos e tem conhecimento amplo sobre barter e negócios, pontua que “o barter é apenas uma das inúmeras formas de negociação”. Para ela, o barter não é a salvação da lavoura mas pode ser o primeiro passo para entrar no mercado. Como profissional da área, Marina não recomenda barter para todo mundo, porque, segunda ela, é preciso ter o mínimo de conhecimento para saber onde está entrando. Mas ela considera essa modalidade como uma ótima alternativa até mesmo para se iniciar nesse mercado. “O barter é uma forma de negociação simplificada e acessível para todas as categorias de produtores, que vai desde os pequenos até os grandes”, pontua.
E para aqueles que desejam conhecer mais sobre barter e negócios, ela deixa um recado: “Produtoras e produtores, vão atrás dos distribuidores e das empresas, se informem e se capacitem na área de negócios. Isso pode ser uma porta de entrada para algo mais estruturado futuramente no seu negócio. O barter é um primeiro passo que facilita esse acesso ao mercado e apresenta diversas vantagens competitivas. Tem muita lição de casa a ser feita pelos produtores rurais para mostrar aos credores que eles são bons negociadores e isso vai ser visto com bons olhos por quem está negociando”, finaliza.
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Este conteúdo integra a websérie Agro 360º, que é uma realização Agromulher, promovida pela Ram do Brasil. Fique ligado (a) nas redes sociais da Agromulher para não perder nenhum episódio!
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