As empresas familiares são de extrema relevância para o desenvolvimento econômico do nosso país. Porém, no setor de Agronegócios, é muito comum acompanharmos casos de famílias empresárias se rompendo e perdendo seus negócios por falta de planejamento e organização da sucessão
Muitos proprietários dão atenção às questões jurídicas e proteção do patrimônio já conquistado. Contudo, se esquecem de olhar para algo também importante: a continuidade dos negócios. Quem vai gerenciar a empresa quando o patriarca ou a matriarca vier a faltar? Os filhos? Será que os filhos querem seguir na mesma atividade? Os filhos estão preparados para a Gestão do Negócio? Eles têm o conhecimento e habilidades necessárias? Se não tem, estão interessados em aprender?
Deixar para conversar e responder a essas perguntas no momento em que os pais já estiverem impossibilitados ou vierem a faltar, não é uma boa ideia, pois pode ser tarde! A dor e as dificuldades costumam ser muito maiores, e a sustentabilidade do negócio no médio e longo prazo se torna mais difícil.
Neste artigo, eu trago 3 dicas estratégicas para uma sucessão familiar de sucesso. Acompanhe:
1. Envolva os filhos no negócio desde criança. Contudo, evitem criar expectativas do tipo “Eu criei esse negócio para os meus filhos”.
Sou neta, filha e sobrinha de agricultores e, por muito tempo, eu mesma me coloquei a pressão para seguir na mesma atividade da minha família. Durante o meu curso de Agronomia, atuei por 2 anos e meio na propriedade rural com meu pai, porém, eu não era feliz e realizada profissionalmente, não tinha um bom desempenho, todas as funções que eu fazia dentro da propriedade durante esse período eram mais pela necessidade de agradar e ser reconhecida pelos meus pais. Mesmo possuindo um profundo orgulho e admiração pelo que eles construíram, meu propósito e objetivos são diferentes dos deles.
Deixo aqui um alerta aos pais: Não deixe essa pressão cair sobre os seus filhos. Pode ser que eles se interessem e se conectem com a profissão de vocês até mesmo com o propósito do negócio, mas pode ser que isso não aconteça. Há diversas possibilidades para a construção de uma carreira e, dentre essas possibilidades, pode haver interesse de permanecer dentro do negócio da família, ou fora, em outra empresa do mercado com área de atuação diferente. Já acompanhei casos em que a atual e a futura geração sentaram e conversaram para alinhar expectativas, e encontraram uma solução para continuarem trabalhando em família, pai e tios como investidores e filho empreendendo em uma atividade diferente do seu interesse dentro do negócio familiar, sob liderança e acompanhamento da família.
2. Prepare o sucessor ou a sucessora para serem Gestores/Líderes
Além de considerar o interesse dos filhos em seguir na atividade e atuar no negócio familiar, é necessário avaliar se ele ou ela tem as competências necessárias e se está cumprindo com suas responsabilidades. Já acompanhei casos de empresas familiares que perderam bons funcionários que possuíam anos de casa por insistirem em manter os filhos ou sobrinhos no negócio apenas por serem da família. Já ouvi de diversos funcionários ao longo dos anos, a frase “Ele só está aqui por que é filho do dono”, e isso é alarmante!
Quando me refiro a competências, é importante considerar não só o conhecimento e habilidades técnicas para tocar o negócio, mas, principalmente, as habilidades gerenciais e comportamentais. Em um treinamento que dei para esposas de agricultores, uma delas compartilhou comigo que o filho está trabalhando na propriedade com o pai. O filho é um bom agrônomo que possui bastante conhecimento técnico, porém, os funcionários da propriedade reclamam para ela que o filho muitas vezes falta com respeito, seja numa conversa casual ou quando chama a atenção, já que nos dois casos, essa comunicação acontece de maneira ríspida.
Questões comportamentais são possíveis de serem resolvidas por meio de um processo de Coaching, por exemplo. No processo, é possível ajudá-lo a compreender que para conquistar o respeito e a confiança da equipe, inicialmente, é preciso ouvir os funcionários e aprender com a experiência e vivência deles, principalmente com os que estão na empresa da família há mais tempo. É necessário encontrar o jeito certo de se comunicar para ter sucesso na implementação das melhorias.
Ou seja, é extremamente importante traçar um Plano de Desenvolvimento olhando para as dificuldades e necessidades de cada filho envolvido no negócio da família, evitando problemas como estes mencionados.
3. Deixe claro o grau de autonomia de cada um e divida as responsabilidades entre os envolvidos.
Recentemente, no intervalo de uma aula, um aluno me procurou e comentou comigo que ele e o irmão trabalham na propriedade rural com o pai. Segundo o relato, ele me disse: “É muito folgado! Viaja praticamente todo final de semana, mesmo em época de safra, e acaba ficando tudo nas minhas costas.” Esse meu aluno considera isso injusto, pois segundo ele mesmo relatou, ambos recebem o mesmo salário. Eu disse a ele uma frase curta, mas muito sucinta: “Realmente, você tem razão!”. Após, sugeri a ele agendarmos um bate papo envolvendo o pai, ele e o irmão. Nesta conversa, alinhamos que um dos filhos ficaria responsável pela gerência administrativa e financeira da empresa, e o outro, ficaria responsável pela gestão das operações e processos agrícolas. Detalhamos as atividades que seriam esperadas de cada um deles e algumas regras a serem cumpridas em relação a viagens, folgas, férias, entre outras questões, visando diminuir desentendimentos e conflitos entre os irmãos e o pai. Desta forma, também ficou mais claro para o pai, de qual filho ele deveria chamar a atenção, quando necessário.
Essas foram as 3 dicas para você ter uma sucessão familiar de sucesso. Desejo que estas dicas práticas ajudem o seu negócio familiar a se perpetuar e prosperar!
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