Preço do dólar em alta, redução da exportação de carne para a China e cancelamento das maiores feiras agropecuárias do País marcam impacto do coronavírus no agronegócio
Sim! Temos que falar sobre isso. A pandemia é real. Milhares ou até milhões de pessoas no mundo estão sofrendo de forma direta ou indireta por conta do novo coronavírus. Uma situação que tomou uma dimensão nunca prevista e nunca vista pela maioria das pessoas das novas gerações. Essa geração que nunca viveu algo parecido é hoje responsável por cuidar para que esse vírus não chegue até nossos pais, avós e bisavós. Já não é mais sobre cada um, mas sobre o que podemos e devemos fazer pelo coletivo. As escolas já estão de portas fechadas, o comércio já deve pensar também nessa necessidade, as ruas e as praias deveriam estar vazias e as pessoas devem ficar em casa. Se for exagero, que pequemos pelo exagero e não pela falta. Se você pode, fique em casa e aproveite para ficar bem informada.
Então, vem com a gente e vamos falar sobre o coronavírus e o agronegócio!
Mas e o agro? Onde entra nessa história toda?
Nesse cenário, assim como médicos, enfermeiros, demais profissionais da saúde, jornalistas e outras profissões que não podem parar, o agro também não para.
Os produtores de leite continuam ordenhando, a colheita da soja segue a todo vapor, a safrinha está sendo semeada já fora da janela de plantio em muitas regiões (mas é preciso plantar), os animais continuam em engorda para o abate, os agricultores familiares continuam plantando e colhendo grande parte do alimento que vai diretamente para nossa mesa, além de tantas outras cadeias produtivas que continuam trabalhando sem cessar pelo povo brasileiro. O agro não para. Não porque não queremos, mas porque não podemos.
Com grande parte da população de quarentena, precisamos produzir o alimento desde o café da manhã até o jantar, o algodão para confeccionar as máscaras, a matéria-prima para vários medicamentos, a cana-de-açúcar para o combustível, e tantos outros recursos indispensáveis que são produzidos pelos grandes e pelos pequenos produtores. Com as pessoas em casa, a necessidade de alimento e demais recursos para cada residência aumenta e é preciso ter alimento de qualidade disponível no mercado.
Cabe aqui um alerta: não é uma boa ideia esvaziar as prateleiras dos supermercados para estocar comida em excesso em casa. Se falta no mercado e a procura é alta, o preço aumenta e muitas pessoas não vão poder comprar por conta do preço alto ou até mesmo pela possível falta desse alimento. O agro continua produzindo e a previsão é que, pelo menos no que depender da nossa parte, não falte comida se todo mundo consumir de forma consciente.
Entenda como o coronavírus pode afetar o agronegócio
Na situação em que estamos, cada dia é uma surpresa. No agro também tudo é nebuloso nesse momento. Não há clareza de como o mercado irá se comportar mas sabemos que o agronegócio será impactado por conta da grande mudança comportamental em escala mundial.
No Brasil, as maiores feiras e exposições do agro onde milhares de pessoas se reúnem para conhecer as novidades do setor foram canceladas ou adiadas para evitar aglomerações.
O novo vírus também abalou os mercados financeiros e a economia mundial. O dólar que chegou a mais de R$5,00 interfere diretamente na compra de insumos (fertilizantes, defensivos agrícolas, sementes, ração animal) que encarecem os custos de produção e também no preço das commodities no mercado nacional e internacional, gerando maior competitividade.
Os especialistas e representantes da área dividem opiniões quanto ao impacto do novo coronavírus no agronegócio. Mas para a maioria, ainda é cedo para medir os reflexos.
Na voz dos especialistas
Em entrevista ao Canal Rural, o secretário de comércio e relações internacionais do Ministério da Agricultura, Orlando Leite, destacou que o coronavírus deve impactar o comércio de produtos do agronegócio. “A situação está evoluindo rapidamente. Isso vai ter algum impacto no comércio do agro, mas ainda não sei dizer qual será o impacto”, comentou. Apesar dessa projeção, ele informa que o setor produtivo ainda não registrou nenhum tipo de problema. “Ainda não registramos disrupções nas nossas exportações, inclusive em janeiro e fevereiro, os embarques subiram na comparação com o mesmo período do ano passado. É uma situação para monitorar de perto junto com as associações”.
Os economistas analisam alguns pontos que podem sofrer influência do coronavírus no mundo do agronegócio, entre eles:
- Fornecimento de defensivos pode ser prejudicado: com o avanço do coronavírus na China e em outros países, tendo em vista que o vírus pode impactar as fábricas chinesas de insumos e o fluxo logístico no país asiático, o fornecimento dos produtos também poderão ser impactados, inclusive para o Brasil, de acordo com a Markestrat Consulting Group ao Canal Rural.
- Custos e vendas da safra 2020/2021: de acordo com o economista Miguel Daoud, o cenário é de depressão nos preços das commodities, o que pode comprometer os valores da safra 2020/2021. “Dizem que as pessoas pelo mundo continuam comendo, e estão, mas não tem dinheiro para continuar pagando os preços que achamos justo”, comenta. Segundo ele, em entrevista ao Canal Rural, o produtor precisa rever suas estratégias de comercialização e seus custos neste momento. “Ele tem que começar a fazer a safra 2020/2021, porque ainda tem margem para travar preços com ganhos”, afirma.
- Insumos podem ficar mais baratos: os preços internacionais do petróleo recuaram 20% desde o início deste ano e podem cair ainda mais com o avanço do coronavírus pelo mundo, segundo a MacroSector Consultores ao Canal Rural. Com isso, é esperado que insumos e outras commodities também se desvalorizem. “Não só derivados, como fertilizantes que tem como matéria-prima o petróleo, mas também defensivos, produtos agrícolas e metais”, comenta Fábio Silveira, economista e sócio-diretor da consultoria.
- Mercado da carne: para o Rabobank, instituição financeira reconhecida por realizar pesquisas no âmbito do agronegócio, a expectativa é de que as importações de carne bovina da China desaceleram no primeiro semestre de 2020, uma vez que o alto estoque de carne congelada armazenada nos mercados locais em preparação para o Ano Novo Lunar não foi usado em janeiro devido ao surto de coronavírus e atividade de serviços de alimentos acabou drasticamente reduzida.
Segundo o relatório do banco, os pontos de atendimento de alimentos chineses provavelmente permanecerão fechados em algumas regiões até março, enquanto em outras regiões as pessoas poderão evitar comer fora juntas. Os restaurantes de serviço rápido podem ser menos afetados, enquanto os restaurantes com hotpot e serviço completo sofrerão uma queda acentuada nas vendas no primeiro trimestre.
Diante da incerteza de controle do coronavírus no primeiro trimestre, o Rabobank entende que algumas empresas, como food service e turismo, continuem sendo interrompidas até abril ou maio. Esse menor volume de vendas significa que a demanda por carne bovina será menor do que os anos normais no primeiro semestre.
Além disso, muitos importadores enfrentam o desafio de um fluxo de caixa limitado devido ao estoque não vendido nos portos e a perdas financeiras incorridas na queda dos preços no final de 2019. Todos esses fatores atrasarão o retorno às importações normais de carne bovina para no início do segundo trimestre, com maior probabilidade para o terceiro trimestre. Apesar disso, o banco espera que as importações de carne bovina da China continuem crescendo em 2020, com uma forte recuperação na segunda metade do ano. Mas as importações serão mais lentas do que em 2019.
Assim sendo, nesse momento, as certezas são poucas. Apenas sabemos que haverá algum impacto para o agronegócio com o avanço do coronavírus, ainda pouco possível de mensurar. Nos resta continuar trabalhando para alimentar o mundo e pedindo a cada um de vocês que levem a sério o que está acontecendo no mundo e, se possível, fiquem em casa e saia somente se for indispensável. Enquanto isso, vamos colhendo, plantando e criando animais na certeza de que dias melhores virão, e até que esses dias não cheguem, façamos a nossa parte pelo bem comum. E, tenho certeza, que ainda falaremos muito sobre esse assunto.
Com informações do Canal Rural e G1
Foto: Pixabay