A descoberta de si mesma é um caminho de transmutação de fraquezas e fragilidades, para o poder e a cura interior. O autoconhecimento é um antídoto contra os males que as mulheres sofrem diante do medo de viverem o extraordinário. Contudo, para se aprofundar em seu autoconhecimento, a mulher trilha uma jornada pela busca da aceitação e superação dos desafios. A jornada é árdua, porém, necessária. Continue lendo e saiba mais
Hoje, a história de vida a ser compartilhada no #mulheresinspiradoras é da Julia Cavalheri Tittoto, que, atualmente, mora em Ribeirão Preto/SP. Especialista no Desenvolvimento de Líderes de Alta Performance, Julia é engenheira agrônoma com mestrado em Administração de Organizações, Julia tem diversas formações na área de Comportamento e Desenvolvimento Humano, é também treinadora, professora de MBA na Fundação Getúçlio Vargas – FGV, e Consultora em Liderança e Gestão de Pessoas, Sucessão Familiar e Desenvolvimento de Carreira. Atua no mercado agro há 13 anos com vivência em associação do setor, propriedade rural de terceiros e da família.
Segundo Julia, muitos foram os desafios encontrados ao longo da sua trajetória profissional, e ela sabe que muitos desafios ainda virão. “Sou neta, filha e sobrinha de agricultores, ou seja, o meio agro sempre esteve muito presente na minha vida. O contato e vivência neste meio, desde criança, me influenciou a cursar Engenharia Agronômica” – comenta Julia.
Na época de prestar vestibular, sua intenção era cursar Psicologia. Entretanto, em seu ambiente familiar, ouvia comentários como: “Psicologia é coisa para doido!”.
Diante disso, Julia decidiu não mencionar aos seus pais que gostaria de estudar essa área. Então, escolheu cursar Engenharia Agronômica e Administração, sabendo que qualquer uma destas áreas iria permitir que ela trabalhasse no negócio da família. Iniciou seus estudos em Engenharia Agronômica, fez estágios em fazendas, experimentos de iniciação científica, apresentou trabalhos em Congressos, foi integrante do Grupo PET Agro, em que pôde desenvolver e aprender muito durante os 5 anos da faculdade.
Depois de formada, Julia conta que trabalhou por cerca de 1 ano e 3 meses na Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) de Ribeirão Preto. Entretanto, decidiu sair do emprego para trabalhar com o pai em sua propriedade. Em relato, Julia conta como foi essa fase em sua vida.
“Cuidava da parte administrativa com atividades de banco, cartório, livro caixa e acompanhava a lavoura. Durante os 2 anos e meio que permaneci na atividade, aprendi muito, mas não posso dizer que me sentia plenamente realizada, muito pelo contrário. Sabe aquele sapato que aperta no pé e, mesmo assim, você insiste em calçar? Esse sapato apertado era justamente a situação que eu vivia… Não me sentia à vontade ali, não tinha bom desempenho, minhas ideias não eram aceitas, os desafios do dia a dia eram pesados. Machucava! Doía! Com ajuda de terapia, me dei conta que estava ali pela necessidade de agradar e esperando reconhecimento dos meus pais. Tenho profundo orgulho e admiração pela agricultura e ao que minha família construiu, mas percebi que o propósito e objetivos da Julia eram diferentes.”
Em sua infância, Julia adorava brincar de escolinha com a personagem de professora. Já na faculdade, seus colegas pediam para passar a matéria no dia anterior às provas, e ela fazia isso com o maior prazer. Com o tempo, ela percebeu que gostava e tinha jeito para lecionar.
“Quando a ficha caiu, decidi seguir os meus sonhos, aproveitar melhor meus pontos fortes, e direcionei minha Carreira para a área da Educação.”
Então, Julia entrou no mestrado em Administração na USP e, em 2012, teve contato com alguns sócios da Markestrat, empresa de Consultoria renomada no Agro. Esse contato proporcionou alguns convites para atuar em Projetos de Consultoria e Capacitação, e Julia acabou se envolvendo nas áreas de relacionamento com clientes, reestruturação organizacional e mapeamento de processos, pesquisa e inteligência de mercado, sucessão familiar, entre outros. Com relação à vontade de atuar na área da Psicologia, e percebendo a necessidade e dor comum nas empresas do agro em relação a capacitações em Liderança e Gestão de Pessoas, em 2015, ela decidiu se aprofundar nesse assunto e fez um processo de coaching, desenhando a partir daí um Plano de Carreira. Durante esse processo, aprofundou seus estudos ainda mais em Comportamento e Desenvolvimento Humano. Desde então, formar e desenvolver líderes passou a ser a sua missão. De lá para cá não parou mais e está sempre buscando aprender novas metodologias e ferramentas para aplicar e ajudar as empresas e profissionais do agro.
Em 2014, concluiu o mestrado e, em 2015, já estava dando aulas para curso de graduação. Durante um semestre, ministrou aulas na mesma universidade em que estudou, a Unesp em Jaboticabal, para os cursos de Engenharia Agronômica, Veterinária e Zootecnia. Aproveitando as oportunidades em Jaboticabal, ministrou aulas também na Faculdade São Luís. Em 2016, além das Consultorias, Julia assessorava os coordenadores do MBA de Agro da FGV, prestando assistência na coordenação.
“Nessa época, possuía todas as qualificações necessárias para dar aula no MBA, tinha uma certa experiência. Porém, comecei a notar que o convite para aulas e treinamentos chegava para alguns dos meus colegas de trabalho e para mim, não! Eu não conseguia entender o porquê. Na minha visão, sempre fui uma profissional dedicada, que fazia além do que era solicitado, tanto na coordenação, quanto nas consultorias. Afinal, o que mais faltava? Para responder a essa pergunta, investi em autoconhecimento, pedi feedback, e percebi que os resultados não chegavam devido às minhas atitudes e comportamentos. Afinal, eu era insegura, introspectiva, conversava com poucas pessoas à minha volta, não fazia networking e não comunicava meus interesses. Esperava que os Gestores reconhecessem minhas contribuições e vontades, mas não me posicionava nas reuniões, evitava colocar minhas ideias em pauta por medo de me acharem boba… Ou seja, fiquei nos bastidores da minha profissão por muito tempo” – relata Julia.
“A partir do momento que desenvolvi habilidades comportamentais que precisava, consegui mudar minha postura, parei de reclamar e me fazer de vítima. Então, a partir do momento em que comecei a agir como protagonista, as oportunidades que eu tanto almejava, treinamentos e aulas, começaram a acontecer.”
Fico muito feliz acompanhando o movimento de ascensão da presença feminina no agronegócio. Há pesquisas que indicam que, dentre os 5 milhões de estabelecimentos rurais do País, cerca de 1 milhão é gerenciado por mulheres atualmente. Entre os anos de 2013 e 2017, houve um aumento de 21% no número de mulheres que ocupam cargos de decisão nas empresas do setor. Mas, a gente sabe que ainda há um longo caminho pela frente. Em meu dia a dia, me deparo com muitas mulheres atuando antes, dentro e depois da porteira, e as considero como verdadeiros potenciais escondidos. Por isso, o trabalho da Agromulher é valiosíssimo! Levar conhecimento e desenvolvimento para essas mulheres, para que cada uma possa enxergar e aflorar o seu verdadeiro potencial é uma missão linda. Estão de parabéns!” – comemora Julia Tittoto.
Para ela, humildade, autoconhecimento e desenvolvimento pessoal são a chave para o crescimento profissional. “Hoje, tenho a plena consciência de que sou a maior responsável pelos meus resultados. Se sou bem-sucedida em algum projeto profissional ou pessoal, eu comemoro, porque é fruto da minha dedicação e comprometimento. Quando eu não me saio tão bem assim, me pergunto: o que eu fiz ou deixei de fazer que contribuiu para este resultado? O que eu poderia ter feito diferente? E assim eu aprendo para não cometer os mesmos erros novamente.”