Desafios como falta de oportunidades, capacitação e reconhecimento são listados por muitas mulheres como frequentes dentro das carreiras no agronegócio. Mas o mercado tem sido mais inclusivo e, a passos lentos, as mulheres têm conquistado o merecido espaço
Ser mulher no agro é símbolo de resiliência, conquista, força de vontade, perseverança. Ser mulher do agro é paixão, é desejo de construir um setor inovador, com ideias revolucionárias que se atenta aos detalhes e realiza os ajustes necessários para ser cada vez mais eficiente. Ser mulher no agro é fazer parte de uma engrenagem e introduzir-se em um sistema que movimenta o país. É dedicar sua força, inteligência e motivação em prol de alimentar o mundo e gerar riquezas.
O papel da mulher no agro é lindo. Mas, nem só de glamour, é feita essa carreira. Quem vive na pele os desafios de ser mulher no agro sabe bem do que estamos falando. Desafios relacionados a falta de oportunidades, de capacitação e falta de reconhecimento e incentivo ainda são comuns na realidade de muitas mulheres no agronegócio. Mas, precisamos reconhecer: aquelas que vieram antes de nós trilharam um caminho árduo e difícil, que nos permitiu iniciar um movimento de inserção da mulher no setor do agro. Setor esse que tem aprendido a acolher as mulheres, a se beneficiar com nosso trabalho, a somar forças e deixar de lado a competitividade mesquinha entre homens e mulheres. A cada dia, o setor do agronegócio tem contado com mais mulheres que relatam experiências positivas tanto nas empresas quanto nas fazendas. E apesar de ainda haver um longo caminho rumo a equidade, temos que assumir o quanto o cenário tem sido promissor para as mulheres em muitas regiões do país.
Mas o que você considera ser um dos grandes desafios para a mulher no agro?
Para Alvina Knop, agricultora e administradora de sua propriedade rural no município de Carazinho-RS, o “maior desafio é encarar a fazenda como fonte de renda, onde a mulher deve trabalhar, empreender e ainda investir. Veja, nem sempre tudo de melhor garante bons resultados. A agricultura se faz nos pequenos detalhes e estes permeiam o todo”, comenta ela.
Alvina é formada em Administração, com ênfase em Agronegócio e Comércio Internacional, e estudante de Psicologia. Há 12 anos ela atua como agricultora e administradora da propriedade da família.
Ela destaca que seu maior desafio foi a sucessão familiar quando recém-formada. “A insegurança por ser mulher e recém formada em busca de um processo de sucessão familiar tranquilo me trouxe, muitas vezes, vontade de recuar. Além disso, precisei de pulso firme para equilibrar o que eu vivia no presente e prover o futuro da minha propriedade. Ano passado, tirei este desafio da mente e percebi que mais do que gestão de custos, organização e planejamento estavam sendo necessários. Mudei a minha forma de administrar para garantir agilidade na tomada de decisões, alinhei esses fatores com a equipe e mantenho firme meu posicionamento”, relata ela orgulhosa.
Já para Ani Paula Marcolan de Souza, Engenheira Agrônoma e Consultora Técnica da Roos, o principal desafio da mulher no Agro é com ela mesma. “Hoje, com a dedicação e colaboração, se formos bons profissionais, independente do gênero, o mercado irá absorvê-lo. Claro que para se chegar até aqui, a mulher lutou arduamente, sendo que para demonstrar que era capaz teve muita dedicação, além do aprendizado de se posicionar no mercado do Agro”, salienta ela.
Capacitação contínua
Com a elevação da exigência por capacitação dentro do mercado, o profissional, seja ele homem ou mulher, precisa estar atento a necessidade e busca por uma capacitação contínua.
Alvina destaca que “empenho e formação continuada são o que elevam o profissional. Nós mulheres, somos minoria, na gestão, atuação e aos poucos vamos igualando a formação nas áreas técnicas com os homens. A mulher tem um papel relevante no processo, mas não vejo como uma guerra de sexos, há oportunidades para quem está disposto a crescer e agregar. O posicionamento dentro das empresas que prestam serviços e produtos, idôneas e profissionalizadas, reconhece quando o trabalho é bem feito”.
Ani Paula concorda com esse posicionamento quando diz que “independente de gênero devemos ser capacitados a ocupar qualquer cargo. Se pensarmos com parceria a visão feminina e masculina, podemos ver que as duas juntas se completam e fazem a diferença”.
Sobre a falta de oportunidade para as mulheres dentro do agro, Ani acredita que “a mulher está sendo muito bem inserida até pelo fato de elas conduzirem um modelo de gestão que as empresas procuram, são mais humanas e pensativas em suas decisões. O desafio para tudo isso é a dedicação e o empenho de cada um de nós, independente do gênero. Acredito muito que quando focamos no que queremos, esquecemos do fato de ser mulher como limitação”, ressalta a engenheira agrônoma.
Propriedades e empresas mais preparadas
Dentro da realidade de Alvina Knop, as propriedades rurais e empresas têm se preparado mais para inserir as mulheres no mercado do agro e somar forças femininas e masculinas em busca de um trabalho eficiente e resultados promissores. A agricultora destaca que “levando em conta o cenário de forma macro, cada vez mais a contratação de mulheres para as diferentes funções se faz necessária, por ser uma mão-de-obra especializada, minuciosa e dedicada. Vejo que a mulher tem um lado humano aguçado, ela cuida do que é urgente, tem seu lado profissional sempre atualizado, mas não deixa de se preocupar com o que é importante, a manutenção da empresa e a gestão de custos, dos processos e também das pessoas”.
Motivação e empenho feminino
Dentro de um cenário tão desafiador e, ao mesmo tempo, promissor, nós mulheres do agro encontramos motivações diárias que nos fazem ter certeza que aqui é EXATAMENTE nosso lugar no mundo.
Essa dose de motivação de Ani Paula está diretamente relacionada ao amor que ela sente por tudo que faz. “O que me motiva é amar muito o que eu faço. Acredito que não seria tão satisfatório outra profissão quanto a que eu realizo hoje. Ter esse contato de troca de informações com o produtor, saber que vou auxiliar, indiretamente ou diretamente, na produção de alimentos e estar no campo todos os dias, isso não tem preço”, comenta satisfeita.
A motivação diária de Alvina Knop é a união do seu trabalho e de sua família em busca de uma agricultura mais sustentável. “O conjunto que me torna responsável pelas boas práticas agrícolas, conservação do meio ambiente e produção de alimentos é o grande embelezamento desta área de atuação que escolhi. Além disso, unir o trabalho no campo a presença próxima dos meus filhos, estarmos unidos como família e trabalho, é motivação suficiente para engrandecer e incentivar a todos que desejam continuar em suas propriedades”, comemora ela.
E para todos aqueles que vivem e trabalham no agro, Alvina destaca pontos chaves para persistir:
- Entenda sua propriedade;
- Delegue funções: trabalhe em equipe, valorize o ser humano e se atenha ao que você faz de melhor;
- Seja colaborativa;
- Não tenha vergonha de aprender: converse e pergunte tudo o que não sabe;
- Confie na experiência: absorva todo esse conteúdo enquanto pais e avós estão presentes na propriedade, as melhores intuições vêm com os anos de trabalho;
- Confie em Deus: que é o Senhor de todos os destinos, que nos abençoa com o clima;
- E seja humilde: de tempo ao processo e colha os frutos da dedicação.
Ser mulher do agro é assim. Uma montanha russa de altos e baixos, em um caminho de muita perseverança e vontade de construir um agronegócio inteligente e cada vez mais inclusivo. Por isso, seja persistente no caminho e execute tudo com amor. Nenhum desafio é maior do que aquilo que fazemos com o melhor que podemos ser.