Segundo informações argentinas, a nuvem de gafanhotos que se aproximava do Brasil não se deslocou por longas distâncias; Ministra da Agricultura assina portaria que permite tomada de medidas emergenciais e uso de agrotóxicos para controle da praga, se necessário
Fonte: Canal Rural e G1
Foto: Divulgação/Governo da Província de Córdoba
O Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (Senasa) da Argentina informou na noite de ontem, 25, que por conta da diminuição da temperatura, provocada pela chegada de uma frente fria, a nuvem de gafanhotos que se aproximava do Brasil não se deslocou por longas distâncias da província de Corrientes, no país vizinho.
“As equipes do Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa) e da província de Corriente continuam trabalhando para encontrar a localização da nuvem, pois, devido às baixas temperaturas, estimamos que ela não se moveu, pelo menos a grandes distâncias”, disse em comunicado.
O órgão argentino disse ainda que uma vez detectada a praga, o objetivo será realizar as ações de controle com um avião agrícola.
Segundo o Ministério da Agricultura do Brasil, o monitoramento dos gafanhotos continua o mesmo, ou seja, sem atingir o Brasil. A pasta disse que até a noite de ontem, os insetos não tinham entrado em território brasileiro.
“De acordo com os dados meteorológicos para a região Sul do Brasil, previstos para os próximos dias, é pouco provável – até o presente momento – que a nuvem avance em território nacional. Caso isso ocorra, será feito um monitoramento interno para o acompanhamento da evolução do evento”.
Manual de controle dos gafanhotos
O governo brasileiro decretou estado de emergência fitossanitária no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina por conta da possível chegada da praga ao Brasil. De acordo com o chefe da divisão de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Jairo Carbonari, o status permite o estabelecimento de protocolos, manuais de procedimentos e autorização de uso de produtos, como agroquímicos, necessários para o controle da praga.
O ministério divulgou também um manual técnico com orientações sobre as ações de controle da praga adaptado às condições do Brasil, “respaldado por dados científicos, com a devida capacitação dos agentes envolvidos num eventual surto da praga no país”.
Estado de emergência fitossanitária
Na última quarta-feira, a ministra da Agricultura Tereza Cristina, assinou uma portaria declarando estado de emergência fitossanitária nas áreas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O documento foi publicado no início da madrugada de quinta (25) no Diário Oficial da União (DOU).
O chefe da divisão de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) no RS, Jairo Carbonari, explica que a portaria é prevista em decretos para permitir atuações de forma emergencial e possa adotar medidas com maior rapidez.
“Na sequência dessa emergência fitossanitária, deverão ser estabelecidos protocolos e, se necessário, também permitir o uso de produtos químicos e agrotóxicos no controle da praga. Produtos que hoje não estariam permitidos, mas que com a emergência é possível”, diz.
Jairo explica que o uso dos produtos e a forma como serão distribuídos depende de muitos fatores. “Se chega, de que forma chega, em que culturas vão atacar. Tem uma gama de aspectos que tem que ser analisados. Hoje a gente não tem como afirmar que o controle vai ser aéreo, por exemplo. Em outros países, na Argentina, é permitido desde aplicação manual, como aplicação com equipamentos terrestres, tratorizados e também com avião. Tudo isso é muito relativo”, destaca.
O que se sabe sobre os gafanhotos até agora?
O que se sabe é que os insetos entraram no território da Argentina pela província de Formosa, que faz divisa com o Paraguai, na última sexta-feira (19).
O gafanhotos, da espécie Schistocerca cancellata, nativa da América do Sul e, segundo o governo argentino, há registros dela no país desde 1891.
Os insetos trouxeram muitos problemas para lavouras da Argentina e do Brasil nas décadas de 1930, 40 e 60. Desde 2015, os argentinos voltaram a relatar a formação de nuvens de gafanhotos.
O pesquisador Ivo Pierozzi Júnior explica que os insetos têm um mecanismo genético de gregarismo, ou seja, agregados. É um comportamento natural dos gafanhotos viverem próximos, especialmente na época de reprodução. “Se encontram condição de reprodução, sobrevivência e alimentação, elas se agregam mais, para ter mais chances de se reproduzir. É como se aproveitassem o momento favorável para potencializar (o aumento da população). É uma ‘tempestade perfeita.”
Após esse ciclo de expansão, a tendência é que os insetos se dispersem, a chamada fase isolada, e o nível populacional se estabilize. Os gafanhotos podem viver de meses até um ano, tudo varia conforme a espécie, o clima e as condições do enxame.
Que estragos estão causando na Argentina?
As principais regiões atingidas na Argentina são as províncias de Santa Fé, Formosa e Chaco, onde existe produção de cana-de-açúcar e mandioca e a condição climática é favorável, segundo o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar argentino (Senasa).
Estragos feitos por gafanhotos em uma lavoura de milho da Argentina — Foto: Divulgação/Senasa
Os gafanhotos se alimentam de vegetação, seja ela nativa ou plantada, então qualquer lavoura, pastagem ou área de floresta pode ser consumida pelos insetos.
Em aproximadamente um quilômetro quadrado podem ter até 40 milhões de insetos, que consomem em um dia pastagens equivalentes ao que 2 mil vacas ou 350 mil pessoas comem, afirma o engenheiro agrônomo argentino Héctor Medina, chefe de monitoramento do Senasa.
Apesar da imagem impressionar, causando pânico nas pessoas, os argentinos reforçam que o inseto não traz nenhum risco aos humanos e nem é vetor de doenças.
Fonte: Canal Rural e G1
Adaptação: Marluce Corrêa