O banco genético em Svalbard recebe e conserva sementes de bancos genéticos do mundo inteiro para protegê-los da extinção e garantir a segurança alimentar da população
Fonte: Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil e Revista rural
No início do mês de janeiro, a Embrapa enviou para a Noruega 3.438 materiais genéticos que fazem parte do seu acervo para compor o maior banco mundial de sementes do mundo, o de Svalbard, situado na cidade de Longyearbyen.
São 3.037 acessos de arroz, 87 de milho, 119 de cebola, 132 de pimentas Capsicum e de 63 Cucurbitáceas (abóboras, morangas, melão, pepino, maxixe, quino e melancia), que serão mantidas a uma temperatura de 18 graus negativos. Acessos são amostras de sementes representativas de diferentes populações de uma mesma espécie.
O envio dessas sementes, segundo Celso Moretti, presidente da Embrapa, dá visibilidade ao Brasil no cenário internacional, e é um esforço adicional de conservação, que se soma ao Banco Genético da Embrapa, conservado em Brasília e que é considerado o quinto maior do mundo.
As sementes foram enviadas pela Embrapa acondicionadas em embalagens aluminizadas hermeticamente fechadas, identificadas com código de barras, e organizadas em caixas plásticas. As caixas foram enviadas pelos Correios até Oslo, na Noruega. De Oslo, seguiram até o arquipélago de Svalbard, no Círculo Polar Ártico e serão depositadas no Banco Mundial de Sementes de Svalbard, em uma cerimônia, no dia 25 de fevereiro, com a presença da Primeira Ministra da Noruega, Erna Solberg, delegados de vários países e representantes de bancos de germoplasma. A Supervisora de Curadorias de Germoplasma Vegetal da Embrapa, Rosa Lía Barbieri, representará o Brasil e acompanhará o depósito das sementes.
O material enviado foi recolhido em bancos de germoplasma mantidos pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília-DF), Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás-GO), Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG), Embrapa Clima Temperado (Pelotas-RS) e Embrapa Hortaliças (Brasília-DF). Em 2014 foram enviados pela Embrapa 514 acessos de feijão e em 2012, 264 de milho e 541 de arroz. A iniciativa é decorrente do acordo assinado entre a Embrapa e o Real Ministério de Agricultura e Alimentação da Noruega, em 2008.
“Elas [as sementes] representam um pouco da diversidade da agricultura brasileira. É um pedacinho da Embrapa que está lá resguardado e é uma forma de garantir que esse material vai estar disponível para população”, disse Rosa Lía Barbieri.
Rosa explicou que esse material só poderá ser aberto pela própria Embrapa e é como uma cópia de segurança para conservação a longo prazo das sementes, que já são armazenadas nos bancos brasileiros. Além do Brasil, pelo menos 30 países também depositarão suas sementes em Savalbard no próximo mês.
Arca de vegetais
O banco genético em Svalbard recebe e conserva sementes de bancos genéticos do mundo inteiro para protegê-los da extinção e garantir a segurança alimentar da população.
Criado para funcionar como uma cópia de segurança para conservação a longo prazo das sementes de bancos de germoplasma de todo o planeta, ele está situado no interior de uma montanha e foi planejado para resistir a catástrofes climáticas e explosões nucleares. Por isso, o banco nórdico é considerado o mais seguro em termos físicos e ambientais.
Em caso de uma catástrofe global, é de lá que sairiam as amostras para o recomeço da agricultura. No interior da montanha gelada existem cerca de 1 milhão de sementes armazenadas e congeladas em câmaras de segurança máxima, planejadas e construídas para resistir a desastres climáticos e explosões nucleares.
O local tem capacidade para 4,5 milhões de amostras de sementes. O clima glacial do Ártico assegura baixas temperaturas mesmo se houver falha no suprimento de energia elétrica das câmaras, que são abertas apenas três dias durante o ano. As baixas temperaturas e umidade garantem uma baixa atividade metabólica, mantendo o poder de germinação das sementes por séculos.
Banco brasileiro
Para a pesquisadora Rosa Lía, a presença da Embrapa no banco de Svalbard dá visibilidade ao Brasil no cenário internacional. “É estratégico para o Brasil essa participação, já que o Brasil tem um protagonismo no trabalho com recursos genético na América Latina, faz todo sentido que a gente mostre isso para o mundo”, disse.
A Embrapa, em Brasília, também possui um banco genético com cerca de 130 mil amostras só de sementes, além de microrganismos e sêmen e embriões de animais, que formam o maior banco de recursos genéticos da América Latina e o quinto maior do mundo.
A coleção serve, prioritariamente, apenas para a conservação do material dos bancos ativos de outras unidades da empresa, nos quais é feito o trabalho de campo, que consiste em testar e pesquisar as propriedades, fazer o manejo dos recursos genéticos e multiplicar as amostras a serem enviadas para bancos internacionais, pesquisadores e empresas solicitantes.
“É o armazenamento da riqueza e biodiversidade do Brasil. É uma das formas de a gente garantir que a sociedade brasileira, no futuro, terá segurança alimentar É aqui que a agricultura, a pecuária e o setor florestal brasileiro virão buscar a variabilidade genética, se for o caso, para combater pragas e doenças que venham atacar a agricultura brasileira”, explicou o presidente da Embrapa, Celso Moretti.
Em 1995, por exemplo, indígenas da etnia krahôs, do Tocantins, recorreram ao banco da Embrapa para recuperar sementes primitivas de milho e amendoim, pois não se adaptaram ao cultivo do milho híbrido comercial e já não possuíam mais a variedade local.
A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia possui também um sistema de informação para consulta pública, o Alelo, com o registro de tudo que está armazenado em seus bancos genéticos.
Fonte: Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil e Revista rural
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